Categoria: Artigos
Data: 27/06/2024

Um dos belos papéis da liturgia é oferecer uma antecipação do além-tempo que será desfrutado na eternidade. – Rev. Guilherme Iamarino


A teologia reformada se ocupa de responder o maior questionamento do indivíduo ao longo de sua existência: a minha, a sua, a nossa finalidade é servir à glória de Deus e nEle encontrar deleite. Remédio à crise de identidade, o culto ao Senhor – público e coletivo ou secreto e individual – dá sentido à coroa da criação.

Os elementos essenciais da liturgia são extraídos dos textos de Colossenses 3.12-17 e Efésios 5.15-19: oração, leitura da Palavra, cânticos, pregação, contribuição e sacramentos. Dentre todos os atos litúrgicos, apenas aquele ligado à adoração e ao louvor não cessará com o fim da etapa terrena. O cumprimento do propósito humano, do Éden à Nova Jerusalém, exige um constante “[...] falando entre si com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor”.

Embora sejam utilizados como sinônimos no vernáculo cristão, são achadas diferenças na aplicação original de cada vocábulo: enquanto o louvor tem por essência a adulação a Deus por seus poderosos feitos; a adoração é o resultado do reconhecimento de quem Deus é e de quem nós não somos. “Louvar é falar bem de Deus, seja em uma oração, seja em um hino, seja em uma conversa com o colega de trabalho. Louvor tem a ver com o que eu digo. Já adoração é algo há dentro de mim. É uma atitude que tenho diante de Deus. Portanto, é no louvor que nossa adoração é exteriorizada. 

Parafraseando o reformador Martinho Lutero, o cristão deve ser uma doxologia viva, o que significa dizer que podemos até gastar o nosso dia indiferentes à presença divina e encher nossos lábios de outras canções, mas tudo quanto nos afasta da nossa função primeira é perda de tempo, desperdício de vida, vaidade.  

Por isso, nos versos 1 e 2 do Salmo 146, o salmista conversa com sua alma e a exorta a louvar ao Senhor por todos os seus dias. Desafio nosso também, já que a carne decaída, que, como dito no texto anterior, encontra no louvor uma afronta à idolatria do seu coração, procura em outros lugares outros prazeres. 

Mas você há de concordar comigo que é estranho alguém ansiar pela eternidade celestial se já não encontra alguma satisfação em se dobrar agora ao Senhor e render a Ele louvores. Incoerência ou hipocrisia, talvez seja a verdade por trás do escárnio de quem diz preferir o inferno por achá-lo mais divertido.

Fato é que o Céu é o gozo sem fim daqueles que se preparam na terra para ocupar um lugar no coro de vozes que entoam “Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos.” (Apocalipse 5.13) É o cenário do grande espetáculo em que nossos joelhos suficientemente calejados estarão dobrados para prestar a perfeita adoração.

Sua liturgia terrena é um ensaio para a eternidade. Resta saber o que terá a apresentar quando o dia derradeiro chegar. Adore, louve. Louve, adore. É a prática que leva à Santidade. 




Autor: Natália Lacerda   |   Visualizações: 337 pessoas
Compartilhar: Facebook Twitter LinkedIn Whatsapp

Deixe seu comentário